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quarta-feira, junho 13, 2007

David Coimbra - 01/06/2007
Meu cachorro Peremptório
Meu cachorro vai se chamar Peremptório. Nunca tive um cachorro. Ou, melhor, até tive o Banzé, mas sua vida foi breve, um Opalão se atravessou no seu caminho. Após o trágico passamento de Banzé, pensei em adotar outro vira-lata. Desisti depois do que me ocorreu num aniversário. Foi assim: cheguei ao aniversário bem penteado, de banho tomado e com um pacotinho de presente na mão. A festa acontecia nos fundos da casa e, para ir até lá, os convidados tinham de entrar pela garagem. O problema era que, na porta da garagem, havia dois cães presos a correntes, cada um de um lado da porta.
Para não ser dilacerado pelos cães, o convidado precisava passar bem pelo meio da entrada, exatamente no centro, milimetricamente no centro. Se fosse mais para a direita ou mais para a esquerda, NHAC!, virava bife. Olhei para aqueles cachorros e comecei a suar. Pareciam o Cérbero, o cão que guarda as portas do inferno. Corajosamente, cruzei entre eles, tremendo e rezando, enquanto eles rosnavam e latiam e tentavam arrebentar a coleira. Durante toda a noite, fiquei pensando que teria de voltar. Foi a pior festa de aniversário a que já fui. Até hoje sonho com aqueles monstros. Desenvolvi certa antipatia pela espécie canina devido a esse episódio.
Optei por outros bichos de estimação: alguns gatos, nenhum deles castrado, que homem que é homem não tem gato castrado; vários canários e caturritas que fugiram da gaiola; um pintassilgo que comia na minha mão; duas tartarugas não muito animadas; e, o que mais gostei, uma codorna. Essa codorna seguia-me por todo lado e fazia um cocozinho pastoso e branco de meia em meia hora, o que traumatizou a minha irmã. Ela passou quatro anos sem comer clarada.
Meu contencioso com os cachorros só foi resolvido quando conheci Maria, uma labradora preta que pertencia a uma ex-namorada. Apaixonei-me por Maria e sua carinhosa vivacidade. A separação da namorada, no entanto, acarretou na separação de Maria, oh, Cristo. Passei meses sem vê-la, até que uma noite, numa rua escura pela qual caminhava, vi que um cachorro preto corria na minha direção. Fiquei apreensivo. Porém, assim que ela se aproximou, a reconheci: Maria! Sim, era Maria que saltava e tentava lamber-me e até urinou de emoção. Ali, constatei: Maria também me amava. O mundo é belo.
Por isso, almejo ter um cachorro, o Peremptório. Que será um pastor alemão grande, inteligente e obediente. Que compreenderá o meu desejo, bastando-me para tanto um mero olhar. Que será ameaçador e feroz quando eu determinar, mas só quando eu determinar. Que me dará afeto irrestrito e incondicional, como só fazem os cães e as mães. Mas, mesmo assim, ele andará sempre na coleira. Não aterrorizará crianças, como já vi algumas sendo aterrorizadas em parques da cidade. Não fará ninguém dar voltas na calçada. Não, não, Peremptório não fará nada disso. Sei bem como isso é ruim.