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segunda-feira, janeiro 24, 2011

David Coimbra, 22.01.2010

Os perigos da casa lotada no fim de semana




Passeava com meu Pocolino por uma rua vicinal de Atlântida quando ouvi o diálogo que reproduzirei a seguir. Deu-se na varanda de uma casa grande, mas não muito grande. Não se tratava de uma mansão, apenas de uma boa casa; espaçosa, não ostensiva. Conversavam dois sujeitos de bermuda e sem camisa, recostados em cadeiras de vime. O primeiro falou, escarvando a unha do dedão:

– Faz seis horas que não vejo o Douglas.


E o segundo:


– Hoje de manhã vi quando ele foi lá para os quartos e não voltou mais.


Segui meu caminho, não ouvi a sequência da conversa, até porque o Bernardo estava interessado em um cachorro barbudo que surgiu na esquina.


– Um cachorro barbudo, papai! – exclamou ele, correndo em direção ao bicho, eu atrás, resmungando malditos cachorros barbudos.


Antes da casa sair do meu ângulo de visão, porém, registrei uma informação: havia oito carros estacionados no jardim. Oito!


Outra coisa: o dia já escorria rumo à noite, e o segundo cara havia informado que vira o Douglas pela última vez de manhã. Douglas se encaminhara à região nebulosa, talvez hostil, definida como “os quartos”, e de lá não mais retornara.


Compreendi o que acontecia ali. Era uma dessas casas tomadas pelos citadinos nos fins de semana. Vinte, 30, às vezes 40 pessoas habitam sob o mesmo teto, dividem o mesmo banheiro, dormem nos sofás e poltronas, dentro de carros, em barracas armadas no jardim, debaixo de pias e churrasqueiras.


Os citadinos são capazes de quaisquer sacrifícios para desfrutar da nossa Orla por alguns dias.


Já passei por isso, quando era um citadino. Uma vez, em Pinhal, estávamos em cinco e só tínhamos uma barraquinha em que cabiam dois. Montamos a barraquinha na areia mesmo e nos amontoamos lá dentro. Ninguém dormiu, mas não dava para sair: fazia frio. Foi uma noite interminável, sobretudo porque o Jorge Barnabé a todo instante tentava contar a Piada da Borracha, que, todos sabem, é A Pior Piada do Mundo.


Doutra feita, alugamos uma casa em Laguna. Éramos uns 30, e a Rose resolveu cozinhar para nós. Começou a preparar uma massa, mas deixou passar o ponto. A massa grudou toda, saiu em bloco da panela. Ao ver aquilo, comentei:


– Oba! Polenta!


A Rose pôs-se a chorar. A Rose era muito suscetível.


E teve um fim de semana em que um namorado da minha irmã nos cedeu o apartamento dele em Capão. Emprestou-nos a chave com a recomendação:


– Cuida que o apê é o xodó dos meus pais.


Levamos uma turma conosco. Patrocinamos uma festa histórica. O pessoal talvez tenha se excedido um pouco quando alguém descobriu a adega de vinhos do cunhadão, mas, puxa, os vizinhos não precisavam chamar a polícia… Ele nunca mais nos emprestou o apartamento. Ainda bem que a minha irmã não ficou com ele.


Citadinos fazem essas coisas. Tudo bem, tudo se resolve com o tempo. Só espero que tenham encontrado o Douglas.